quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mais uma sobre solidão...

...ou melhor, sobre a não solidão.



"Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos."

(João Cabral de Melo Neto)

Imagem: B. A. Schmidt Arts
Versos: Tecendo a Manhã - João Cabral de Melo Neto

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Solidão...


"Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou."

(Fernando Pessoa)




Solidão é uma palavra forte, palavra que costuma evocar sentimentos como tristeza, angústia, isolamento. A solidão tem-se feito minha constante companheira nesses últimos anos. Não há como negar que ela, em sua possessividade, traga consigo um pouco de tristeza. Que por vezes, nesta nossa relação, ela me prive de viver a realidade ao meu redor, encarcerando, em sólida fortaleza, apenas eu e ela. Ou que ela, em sua presença forte e constante, faça com que me sinta só em meio a uma multidão.


Mas a solidão não é apenas essa companheira tirana. A solidão também traz conforto e alívio, naqueles momentos em que preciso de paz para pensar minhas atitudes, traçar minhas metas, chorar minhas derrotas e pensar meu futuro. A solidão é companheira necessária quando preciso valiar o sentido que estou dando à minha vida ou simplesmente atuando como elo de ligação com a Presença Maior na qual acredito.


Acredite, solidão não é assim, tão má companhia como costumam pensar, apenas não se deixe dominar por ela. Para mim talvez não seja tão fácil, mas espero um dia dar adeus à solidão possessiva que hoje tenho como companheira, reencontrando a solidão amiga, confidente e parceira nas minhas reflexões. Amiga estimada que apenas me visitava enquanto eu tinha, por reais companhias, pessoas com rostos e nomes, pessoas que partilhavam comigo, além da sua presença e das suas palavras, o calor confortante de um abraço...